"Se já está frio assim agora no fim do outono, imagina como vai ser o inverno." Essa é uma frase que muitos têm repetido nos últimos dias, especialmente depois da chegada de uma intensa massa de ar frio ao Rio Grande do Sul na última semana de maio. A queda brusca nas temperaturas, acompanhada por episódios de neve e madrugadas de geada, levou muitos gaúchos a pensar que o inverno de 2025 será rigoroso. No entanto, essa suposição ignora um ponto importante: o comportamento climático típico da região sul do Brasil.
Ao contrário do que se imagina, os dias mais frios do ano no Rio Grande do Sul costumam ocorrer antes mesmo do início oficial do inverno. De acordo com o critério astronômico, o inverno começa no final do dia 20 de junho. No entanto, para fins estatísticos e de climatologia, o inverno é considerado entre os dias 1º de junho e 31 de agosto.
Historicamente, é comum que as últimas semanas do outono, especialmente a primeira quinzena de junho, apresentem temperaturas mais baixas do que o próprio inverno. Isso ocorre devido à atuação precoce de massas de ar polar e à maior frequência de noites de céu limpo, o que favorece o resfriamento acentuado durante a madrugada.
Analisando os registros históricos, percebe-se que muitos dos dias mais gelados no Sul do Brasil ocorreram justamente na primeira quinzena de junho. Há diversos anos em que o mês de junho teve temperaturas médias inferiores às de julho e agosto, meses tradicionalmente considerados os mais frios do ano.
Entre os anos que evidenciam esse fenômeno estão 1995, 1997, 1999, 2006, 2008, 2010, 2016, 2017, 2018 e 2022. Em todos esses períodos, o frio de junho se destacou, superando o dos meses seguintes tanto em intensidade quanto em frequência de geadas e temperaturas negativas.
Um exemplo marcante foi junho de 2016. Naquele ano, o mês foi muito mais frio que julho e agosto. O Sul do Brasil registrou um altíssimo número de dias com temperaturas negativas, além de um número expressivo de ocorrências de geada. Esse padrão não é um caso isolado, e sim uma característica do clima da região, reforçando que o frio mais intenso nem sempre está reservado para o inverno astronômico.Informações da metsul
Dados das séries climatológicas reforçam essa tendência. Na série de 30 anos entre 1961 e 1990, a temperatura média de junho em Porto Alegre era de 14,3 °C, ou seja, mais baixa que a de julho (14,5 °C) e também menor que a de agosto (15,3 °C).
Na série mais recente, de 1991 a 2020, houve uma leve mudança: julho passou a ser o mês com menor temperatura média mensal, registrando 14,1 °C, enquanto junho apresentou 14,8 °C e agosto 15,7 °C. Mesmo assim, a diferença entre junho e julho é pequena, e o histórico continua mostrando que os primeiros dias do chamado “inverno climático” podem, sim, ser os mais frios do ano.
Diante disso, é importante desfazer um equívoco comum: o fato de termos experimentado temperaturas muito baixas no fim de maio e início de junho não significa, necessariamente, que o inverno será ainda mais frio. Essa associação automática não encontra respaldo na climatologia histórica.
Eventos de frio intenso podem ocorrer no final do outono sem que isso represente uma tendência para os meses seguintes. Assim como pode haver ondas de frio mais severas durante o inverno, também é possível que julho e agosto tenham temperaturas mais amenas, dependendo da configuração atmosférica ao longo da estação.
É compreensível que a população se surpreenda com o frio precoce e projete um inverno rigoroso. No entanto, a análise do histórico climático do Rio Grande do Sul mostra que isso não passa de um mito. As temperaturas registradas agora, no fim do outono, são características da época e não devem ser vistas como indicativo de um inverno excepcionalmente gelado.
A melhor forma de compreender e se preparar para o clima é confiar na climatologia, nas previsões de médio e longo prazo feitas por especialistas e, sobretudo, não cair na tentação de tirar conclusões precipitadas a partir de fenômenos isolados.
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