Quando criamos um personagem, imediatamente criamos uma personalidade para ele. Damos, no mínimo, uma característica que baseia todas as suas ações e falas. Podem ser abrangentes, como “nerd”, “patricinha”, “rockeiro”, “praiano” etc., abordando mais de um traço de personalidade em uma característica só: “nerd” – inteligente, esperto, raciocínio rápido, óculos de grau, roupas comuns; “patricinha” – roupas cor-de-rosa, nariz sempre empinado, unhas compridas, acessórios dourados; “rockeira” – roupas escuras, introvertida, sempre fala sobre suas bandas favoritas, toca algum instrumento; “praiano” – sabe surfar, usa tranças, seu braço é coberto de pulseiras, leva a vida na tranquilidade.
É claro que, aplicando isso na vida real, existem muitas variações. Eu, por exemplo, sou uma rockeira que só usa roupas coloridas! David Bowie, também. No entanto, quando criamos personagens, pegamos o estereótipo mais estereotipado possível para podermos ter uma base simples que possa ser desenvolvida ao longo das páginas.
Também existem as características mais específicas, como “carismático”, “trouxa”, “fofo”, “frio” etc. e cada uma deve ser escrita de uma maneira diferente. Hoje, vamos focar nos personagens frios.
São os mais difíceis de escrever porque, por serem frios, não expressam suas opiniões, o que faz com que o público não saiba nada sobre eles. Isso evita que um vínculo seja criado. Por serem frios, também são quietos e não têm vínculos com outros personagens.
“Calma aí, Renatha, você acabou de jogar na minha cara que os personagens frios são inúteis. Por que eu escreveria um?”
Boa pergunta. De verdade. Não sei... Acho que escritores gostam de sofrer.
Eu, pelo menos, amo escrever personagens desafiadores e acredito que os frios e calculistas, no estilo Thomas Shelby, são uma ótima forma de explorar a mente humana. O meu favorito com certeza é o Hannibal Lecter porque, além de frio, é sarcástico. Essa combinação é tão perfeita quanto arroz e feijão.
Hannibal tem a frieza de comer parte de um homem enquanto ele está vivo. Consegue literalmente cortar um cérebro com garfo e faca e comer sem temperar. Essa cena já é icônica por si só, mas o que a deixa ainda mais marcante é o deboche do canibal. Fica conversando com a vítima o tempo inteiro, explicando passo a passo o que está sendo feito com seu cérebro.
Hannibal é um personagem que, se existisse na vida real, todo mundo odiaria. No entanto, estamos no mundo da ficção e acabamos gostando de um canibal. Um canibal! Isso porque nesse e em outros casos, as vítimas mereciam o que ganhavam. Sem contar que ele realmente ajudava Clarice com os casos.
Assistindo a esses filmes do ponto de vista de escritora, admiro o assassino porque escrevo muitos assassinatos. A cena em que Hannibal pendura o corpo estripado do lado de fora da igreja é simplesmente divina! Sem contar com toda a tensão desenvolvida até chegar nela.
Personagens frios tocam em uma parte de nós que não exploramos com frequência. Eles representam tudo que é selvagem e errado. Vamos usar o melhor exemplo possível de frieza: Você descobre que tem câncer e decide que ninguém merece viver porque não dão valor para a vida. Foi exatamente esse pensamento que fez com que John Kramer virasse Jig Saw.
Pensando como seres humanos civilizados, isso é repugnante! Terrível! Não é só porque você vai morrer que todo mundo também deveria. Por outro lado... Por que pessoas que não dão valor para a vida deveriam vive-la? Pessoas podres que destroem as suas vidas e as dos outros de diversas formas. Paparazzis que invadem a privacidade de qualquer um por um pouco de dinheiro ou até mesmo uma viciada em drogas podem ser considerados para entrar nos jogos do Jig Saw.
Os melhores personagens frios são aqueles que, no fundo, estão certos. Por isso é interessante explorar o fato de que o público provavelmente vai acabar gostando deles.
A frieza não faz com que o personagem seja o antagonista. Batman é um herói! Não é só por causa disso que precisa usar roupas coloridas e ficar cantarolando enquanto dá pirulitos para criancinhas (olhando com um pouco de maldade, isso até parece coisa de vilão). Ele cumpre seu dever e salva Gotham City milhões de vezes, mesmo assim continua mantendo sua figura trevosa e sua personalidade quieta e reclusa.
Não fala muito, não demonstra muito. Apenas faz o que deve ser feito com perfeição. O Coringa é o oposto! Sempre faz piadas e fala demais. Sem contar que também faz demonstrações interessantes, como a cena icônica em “O Cavalheiro das Trevas” com o Heath Ledger, em que mostra um truque de mágica.
Além disso, conseguimos ver uma diferença gritante nos seus visuais. Coringa usa um terno roxo, tem cabelo verde, sua pele é branca por causa do ácido e usa batom vermelho. Também mostra o quão excêntrico é por meio dos seus movimentos. Está sempre rindo, mas, além disso, movimenta-se de uma forma que sempre dá a entender que quer manipular os outros. Voz arrastada, movimentos frequentes com os braços e o fato de não parar quieto mostram isso.
Batman, no entanto, está sempre parado. Não ri, não fala e nem respira. Parece um robô que deve cumprir seu dever, como o “Exterminador do Futuro”.
Além da personalidade e das roupas, podemos prestar atenção a como foram desenhados nas HQ’s. Coringa é magro e alto, mostrando agilidade. Batman é quadrado para mostrar força e dominância. Hera Venenosa tem várias curvas para mostrar sensualidade. Arlequina é baixa para representar como é menosprezada por tudo e todos, além de ter a pele branca igual ao Coringa para mostrar a conexão dos personagens e, é claro, por causa da história.
Existe um método usado na animação em que cada personagem é baseado em um formato geométrico. Personagens frios, sérios, marrentos, raivosos e cara-fechada são quadrados. Isso acontece porque é uma forma geométrica com quatro pontas afiadas e lados idênticos, o que demonstra segurança e coesão.
Por isso, o Raiva de “Divertida Mente” é literalmente um cubo vermelho! Ao prestarmos atenção, muitos personagens quadrados remetem a ideia de frieza. Quando são fortes, com os músculos saltando para fora, também dão uma aparência quadrada. Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, por exemplo, são fortes e sempre fizeram personagens frios.
Não podemos esquecer de que eles falam pouco. Respostas curtas. Sim. Não. Hm. Sem enrolação e foco na missão! Eles vão evitar ao máximo falar sobre si mesmos ou sobre qualquer coisa que não esteja envolvida com o foco principal da história. É como se tivessem mais noção da importância do que está acontecendo do que os outros personagens.
Coringa vive a vida livremente, sem se preocupar com as consequências das suas ações. Por isso, leva a vida tranquilidade. Batman, no entanto, sempre deve ficar se preocupando em salvar a cidade, por isso deve ser frio.
Confira meu livro! "Nesta distopia, diversas pessoas pagam um alto preço para assistir e ter a chance de entrar no honrado O Jogo, no qual há um grupo de pessoas e, ali, um assassino. Na Temporada 11, no entanto, algumas coisas dão errado, mudando o destino desse evento para sempre. Entre assassinatos brutais e disputas entre jogadores, a plateia faz apostas e observa-os com fogo nos olhos, mal podemos esperar para descobrir o que acontecerá a seguir." Dilva Camargo Artista Visual.
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