Quando somos adultos, é fácil escrever um personagem que também é adulto. Mesmo tendo personalidades opostas e, talvez, até mesmo vivendo em universos completamente diferentes, ambos tiveram a experiência da vida adulta.
Por ter falta de familiaridade com a infância, acabamos tendo dificuldade para escrever sobre essa época. Sim, fomos crianças um dia, mas isso é um tempo muito distante para que nos sintamos seguros ao escrever sobre.
Tenho 15 anos e, mesmo sendo uma adolescente, escrever criancinhas pequenas é um desafio. Essa insegurança surge porque, como escritora, fico com medo de estragar a história por deixar o personagem muito maduro para sua idade ou infantil demais.
No meu novo livro, “Luzes, câmera e vingança”, escrevi duas crianças: Alexandre, com 7 anos de idade; Rainer, com 10 anos de idade. Alexandre é uma pimentinha, extremamente agitado e caótico. Rainer é mais recatado e quieto, direto ao ponto. “Faca na bota”, como falamos aqui no Sul.
Eles são irmãos e têm uma diferença de idade de 3 anos. Isso parece pouco para um adulto, já que a vida geralmente não muda muito entre os 43 e os 46 anos de idade, mas é uma eternidade durante a infância.
Temos essa impressão porque os adultos já tem a vida praticamente definida. Um emprego, um parceiro, filhos, viagens feitas, sonhos realizados, problemas não solucionados... A rotina é fixa.
Crianças só têm uma rotina caso seus pais queiram que tenham. Por elas, a vida é uma aventura diferente a cada dia! Temos muito a aprender com elas.
O que importa é que estão em fase de crescimento e existe uma grande diferença entre uma criança de 7 anos e uma de 10. O nível de maturidade muda e, por consequência, suas atitudes.
Outro fator importante é lembrar que todas as crianças das suas histórias têm personalidades diferentes. Não é só porque são crianças que vão ser iguais! No caso de Rainer e Alexandre, a diferença é evidente. Assim como personagens adultos, eles tiveram experiências que formaram o indivíduo na qual se tornaram. Mesmo sendo poucas.
Rainer, por exemplo, é muito confiante. Sempre está com a postura perfeita e fala com convicção para conquistar o que quer. Importante: Ele sempre consegue. Por quê? Porque o Rainer é o Rainer; um pequeno manipulador de classe A.
No entanto, faz sentido que seja confiante porque ser um bom aluno é uma das suas características. Ele tem toda essa autoestima porque sabe que tira notas boas, ou seja, sabe que é demais (e é mesmo – meu xodó, como escritora).
Mesmo sendo jovem, já viveu o suficiente para saber que é um bom aluno. Com 10 anos de idade, é óbvio que a criança já vai ter uma noção se é inteligente ou não. Já com 7, ela não presta tanta atenção nisso.
Alexandre é muito habilidoso com a câmera, um fator essencial para a história do livro. Por ter esse talento, ele é muito exibido e, assim como o irmão, é muito confiante. No entanto, essa confiança veio de outro lugar.
É importante lembrarmos que a origem da personalidade de alguém depende da sua bagagem. A confiança de Alexandre vem de algo mais genuíno porque ele simplesmente gosta de tirar fotos enquanto a confiança de Rainer vem do fato de conseguir aguentar a pressão que a sociedade implanta sobre as crianças para que sejam alunos perfeitos.
No entanto, alguns fatores podem impactar na maturidade do personagem. Alexandre está sempre com o irmão e, por isso, sabe de algumas coisas que uma criança normal de 7 anos não saberia. Entre elas, o que é a morte.
Bem... “Sem querer querendo”, acabou matando o avô envenenado. Naturalmente, teve que aprender que suas atitudes têm consequências.
Alexandre é imaturo em todos os aspectos, mas, se formos analisa-lo camada por camada, acaba sendo muito esperto. Existe uma grande diferença entre “maduro” e “esperto”.
“Maduro” é quando alguém age como se fosse mais velho e “esperto” é quando alguém age como se fosse mais inteligente do que realmente é.
Rainer é maduro, mas isso faz sentido ao descobrirmos um pouco mais sobre sua história. O pai é um homem que se cobra demais, do tipo que não consegue aproveitar os prazeres da vida. Por ter essa figura presente na sua vida, naturalmente ficou parecido, mesmo que não fosse a intenção do pai. Pelo contrário: ele tinha pavor de ser daquela forma porque seu próprio pai, o avô assassinado, era visto assim.
Mas, para saber mais, você precisa ler o livro, é claro. Assim como o “Quer jogar?”, está disponível para vendas online! Está no Kindle e, na versão física, em sites como Americanas, Casas Bahia, Mercado Livre, Ponto Frio etc.
Mas chega de marketing, vamos voltar a falar sobre crianças. Suas atitudes são, sim, afetadas pelas ações dos pais. Um personagem amargurado provavelmente vai ter um filho amargurado, que é o caso de uma personagem secundária do meu livro. Ela é extremamente pessimista e seu filho acabou virando um pivete que bate nos coleguinhas e estraga as brincadeiras.
De qualquer forma, também acontece o oposto: pais muito cruéis podem ter filhos muito bondosos. A saga “Descendentes” fala perfeitamente sobre isso.
Nela, acompanhamos os filhos dos vilões clássicos da Disney. A história dos filmes consiste em falar que não é só porque a família é má que a próxima geração também vai ser. Também fala sobre ninguém ser 100% bom ou 100% mau.
Explore os extremos. Sempre é bom exagerar e detalhar. Quanto mais nos aprofundamos em um aspecto, mais intrigante fica a história. Vamos supor que a criança é extremamente apegada a um bichinho de pelúcia. Por quê?
Esse final pode ser trágico, revelando que seus pais não permitiam que tivesse brinquedos porque tinha que focar nos estudos e, quando fica na casa da tia, se agarra àquele bichinho de pelúcia enquanto pode.
Também pode ser triste, já que o bichinho de pelúcia é, na verdade, um presente que ganhou do pai em um parque de diversões antes que morresse por causa do câncer. É sua única lembrança com ele que vinha da sua memória e não de fotos reveladas em um álbum.
Se nos esforçarmos um pouco mais, podemos criar um final feliz. O melhor amigo dessa criança tem um bichinho de pelúcia idêntico e, por isso, é como um talismã da amizade.
A única coisa que você não pode fazer é dar uma característica como essa e justificar com “porque sim”. O público não quer respostas rápidas. Explique. Explore o que se passa na cabeça da criança.
Muitas vezes, julgamos nossos próprios personagens por causa da sua idade e acabamos deixando-os vazios porque pensamos que “criança é tudo igual” ou que “não têm experiência de vida o suficiente para que sejam interessantes”.
Ao invés de ter medo de escrever um personagem com uma grande diferença de idade comparando com a sua, fique empolgado! Você pode explorar diversos assuntos diferentes e até mesmo descobrir mais sobre sua própria infância. Liberte sua criança interior.
Os nomes dos meus livros são “Quer jogar? Tesouras não cortam só cabelo” e “Luzes, câmera e vingança”. Ambos estão disponíveis no Kindle e, na versão física, em sites como Mercado Livre, Ponto Frio, Americanas, Casas Bahia etc.! Confira as sinopses:
Confira meu livro! "Nesta distopia, diversas pessoas pagam um alto preço para assistir e ter a chance de entrar no honrado O Jogo, no qual há um grupo de pessoas e, ali, um assassino. Na Temporada 11, no entanto, algumas coisas dão errado, mudando o destino desse evento para sempre. Entre assassinatos brutais e disputas entre jogadores, a plateia faz apostas e observa-os com fogo nos olhos, mal podemos esperar para descobrir o que acontecerá a seguir." Dilva Camargo Artista Visual.
“Durante o jantar, ocorre uma morte repentina na mesa da família Capellier. No entanto, não podem chamar a polícia porque seu sobrenome não seria muito bem-visto na delegacia por causa do passado de Francisco, um corrupto de primeira classe.
Para a surpresa de todos, ele morre, mas ninguém iria no seu funeral porque era odiado pelo mundo inteiro. Para não deixar passar em branco, os Capellier, uma família burguesa, não podiam perder a oportunidade de convidar seus inimigos (pelo menos, os que podiam listar) para se hospedarem na sua mansão absurdamente glamorosa e compartilhar a raiva mútua que sentiam contra o homem que, agora, estava morto.
Todos aceitam o convite sem pensar duas vezes, mas a família não imagina o quão sedentos por vingança estão os convidados...”
Valéria do Sul
(Deivid Jorge Benetti),
do Portal de Notícias MPV