Nesta segunda-feira (8), a Petrobras anunciou reajustes significativos nos preços da gasolina e do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), mais conhecido como gás de cozinha. A partir desta terça-feira (9), o preço do litro da gasolina para as distribuidoras aumentará em R$ 0,20, enquanto o botijão de 13 kg de GLP será elevado, em média, em R$ 3,20. Essas mudanças são motivo de preocupação entre economistas, que preveem um impacto direto na inflação brasileira, especificamente no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a medida oficial da inflação no país. Estimativas indicam que esses reajustes podem elevar a inflação em até 0,21 ponto percentual.
Segundo análises de especialistas, o reajuste anunciado pela Petrobras terá um impacto imediato e significativo no IPCA. Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, ajustou sua previsão de inflação ao final do ano de 4,10% para 4,28%, atribuindo esse aumento principalmente ao novo preço da gasolina, que deve adicionar 0,13 ponto percentual à inflação, com 0,09 ponto já sendo refletido na leitura de julho do IPCA. Além disso, o reajuste no GLP deve contribuir com um acréscimo de 0,05 ponto percentual.
Leonardo Costa, economista do ASA, também prevê um impacto total de 0,20 ponto percentual, distribuído entre as leituras de julho e agosto. Costa revisou sua previsão de inflação anual de 3,9% para 4,0%. João Fernandes, economista da Quantitas, espera um impacto ainda maior, de 0,21 ponto percentual, com 0,15 ponto vindo diretamente do aumento na gasolina, 0,03 ponto do etanol e 0,03 ponto do GLP. Dessa forma, a Quantitas revisou sua previsão de inflação para 2024 de 4,1% para 4,3%.
No BNP Paribas, a economista Laiz Carvalho manteve sua previsão de inflação em 4%, mas com viés de alta, calculando que 0,14 ponto percentual do impacto será sentido em julho, e 0,07 ponto em agosto.
Os reajustes nos preços dos combustíveis e do GLP vêm em um momento delicado para a economia brasileira. A inflação, que vinha sendo controlada nos últimos meses, encontra-se novamente sob pressão devido a diversos fatores, incluindo a instabilidade econômica global e a alta nos preços das commodities. Os consumidores, especialmente os de baixa renda, serão diretamente afetados pelo aumento nos preços do gás de cozinha, que é um item essencial nas residências brasileiras.
Além disso, o aumento no preço da gasolina terá um efeito cascata em diversos setores da economia. O transporte de mercadorias ficará mais caro, o que pode levar a aumentos nos preços de alimentos e outros bens de consumo. O impacto também será sentido no setor de serviços, onde o custo de transporte é um componente significativo do preço final dos serviços prestados.
Paralelamente ao anúncio dos reajustes, a Transpetro, subsidiária da Petrobras, lançou um edital para a contratação de quatro novos navios petroleiros. Esta medida faz parte de um esforço maior para revitalizar a indústria naval brasileira, que tem enfrentado desafios significativos nos últimos anos. A construção dessas embarcações, que podem ser realizadas por estaleiros estrangeiros ou nacionais, com vantagens competitivas para empresas brasileiras, faz parte do Plano Estratégico 2024-2028 da Petrobras.
O plano, que prevê a construção de 16 embarcações entre petroleiros e gaseiros, é uma resposta à demanda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por um estímulo à indústria naval nacional. A primeira dessas novas embarcações está prevista para ser entregue em 2026, representando um avanço significativo para a indústria e potencialmente criando empregos e impulsionando a economia local.
Os economistas consultados pelo Estadão/Broadcast são unânimes em suas previsões de que os reajustes nos preços da gasolina e do GLP terão um impacto significativo na inflação. No entanto, há diferenças nas estimativas de quanto e como esse impacto será distribuído ao longo do tempo.
Andréa Angelo destaca que o impacto imediato no IPCA será visível já em julho, com a maior parte do aumento vindo do reajuste na gasolina. Leonardo Costa concorda, mas prevê que o impacto será distribuído entre julho e agosto. João Fernandes oferece uma visão mais detalhada, separando o impacto entre gasolina, etanol e GLP, e espera um impacto total ligeiramente maior.
Laiz Carvalho, por outro lado, mantém uma perspectiva cautelosa, preferindo adicionar um viés de alta à sua previsão de inflação, mas sem revisá-la completamente. Esta abordagem pode refletir uma cautela diante das incertezas econômicas mais amplas e da possibilidade de novos ajustes nos preços dos combustíveis ao longo do ano.
O aumento nos preços da gasolina e do GLP terá consequências diretas para os consumidores brasileiros. A gasolina, além de ser um combustível amplamente utilizado nos veículos particulares, também é crucial para o transporte de mercadorias e serviços. Com o aumento do preço por litro, é esperado que o custo do transporte suba, levando a aumentos nos preços dos produtos que dependem desse transporte.
Para os consumidores de baixa renda, o impacto será ainda mais acentuado. O gás de cozinha é um item essencial para a maioria das famílias brasileiras, e o aumento de R$ 3,20 no botijão de 13 kg pode representar uma carga significativa no orçamento doméstico. Isso pode levar a uma redução no consumo de outros bens e serviços, exacerbando as dificuldades econômicas para essa faixa da população.
A reação do governo e das políticas públicas será crucial para mitigar os impactos desses reajustes. Medidas como subsídios ao GLP para famílias de baixa renda, controle de preços ou incentivos para o uso de combustíveis alternativos podem ser consideradas. Além disso, a fiscalização para evitar abusos nos preços ao consumidor final será essencial para garantir que os reajustes não sejam exacerbados por práticas de mercado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já sinalizou a importância de estimular a indústria naval nacional, e a contratação de novos navios pela Transpetro pode ser vista como parte dessa estratégia. No entanto, é necessário um esforço coordenado e abrangente para lidar com os efeitos inflacionários dos reajustes nos combustíveis e proteger os consumidores mais vulneráveis.
Os recentes reajustes nos preços da gasolina e do gás de cozinha anunciados pela Petrobras representam um desafio significativo para a economia brasileira. Com impactos diretos na inflação e consequências amplas para os consumidores, especialmente os de baixa renda, é essencial que medidas sejam tomadas para mitigar esses efeitos. A contratação de novos navios petroleiros pela Transpetro é um passo positivo para a indústria naval, mas deve ser acompanhada por políticas públicas eficazes para controlar a inflação e proteger os mais vulneráveis. A vigilância contínua e as ações coordenadas serão fundamentais para garantir a estabilidade econômica e o bem-estar da população brasileira.
Redação: Colunista Paulo Negretto