Na tarde ensolarada desta quinta-feira (11/07), Gravataí se viu palco de um evento marcante para a indústria automotiva e para o Rio Grande do Sul. Santiago Chamorro, presidente da GM América do Sul, anunciou um investimento robusto de R$ 1,2 bilhão na modernização da fábrica local e na produção de um novo modelo de veículo, programado para ser lançado em 2026. Este movimento, segundo Chamorro, não apenas visa fortalecer a capacidade produtiva da GM, mas também enviar um claro sinal de confiança no potencial econômico e na resiliência da região sulista.
Ao ser questionado sobre a escolha estratégica de iniciar os investimentos pelo Rio Grande do Sul, Santiago Chamorro destacou a importância simbólica e prática dessa decisão. Em meio aos desafios recentes enfrentados pelo estado, como os impactos do desastre climático, a GM optou por investir em Gravataí como forma de reafirmar seu compromisso com a comunidade local e com o desenvolvimento regional. "É um momento crucial para demonstrarmos nossa confiança no potencial não apenas de Gravataí, mas de todo o Rio Grande do Sul", afirmou o executivo durante a entrevista coletiva.
O investimento de R$ 1,2 bilhão não representa apenas uma modernização da infraestrutura da fábrica, mas também marca o início de um novo ciclo de crescimento para a GM no Brasil. Chamorro mencionou que este montante faz parte de um plano mais amplo de investimentos da empresa no país, totalizando R$ 7 bilhões destinados às suas unidades fabris até 2028. Esses recursos visam não apenas aumentar a capacidade de produção, mas também introduzir novos modelos que possam atrair consumidores não apenas no Brasil, mas em outros mercados da América do Sul.
O presidente da GM América do Sul manteve o mistério em torno do novo modelo que será produzido em Gravataí, revelando apenas que será baseado na plataforma dos populares Onix e Onix Plus, movido a combustão interna. "Já temos o segmento definido, a motorização planejada e um design que promete encantar", disse Chamorro. Com uma produção estimada em 80 mil unidades por ano na fábrica gaúcha, a GM espera conquistar um segmento de mercado onde ainda não possui presença significativa, alavancando assim suas operações na região.
Em um mercado global cada vez mais inclinado para veículos elétricos e híbridos, a decisão da GM em continuar investindo em modelos a combustão interna pode parecer contra a corrente. No entanto, Chamorro defende a pluralidade tecnológica como essencial para atender às demandas diversificadas dos consumidores brasileiros e sul-americanos. Ele enfatiza que, apesar da crescente concorrência de veículos importados, principalmente da China, a GM está confiante em sua capacidade de competir em igualdade de condições.
A competitividade dos produtos fabricados no Brasil, no entanto, enfrenta desafios significativos devido ao elevado custo de produção. Chamorro reconhece que o "custo Brasil", composto por questões logísticas e uma carga tributária elevada, afeta a competitividade dos veículos no mercado internacional. Ele destacou a importância de uma agenda conjunta com o governo federal para reduzir esses custos, aumentar os volumes de produção e expandir as exportações para outros países da América do Sul, onde existe um mercado potencial significativo.
Além dos aspectos econômicos, a GM está comprometida com avanços ambientais em suas operações. Chamorro mencionou os esforços contínuos da empresa para incorporar energia elétrica limpa em suas fábricas, reduzir o consumo de água e energia na produção de veículos, e aumentar a reciclabilidade dos materiais utilizados. Tais medidas não apenas visam atender às expectativas dos consumidores conscientes, mas também contribuir positivamente para o meio ambiente, alinhando-se com os objetivos globais de sustentabilidade.
Ao discutir os potenciais impactos da reforma tributária sobre os preços dos automóveis, Chamorro expressou preocupações quanto a qualquer aumento nos impostos sobre veículos. Ele argumenta que tais medidas poderiam não apenas reduzir o consumo, mas também impactar negativamente o nível de emprego e os investimentos futuros da indústria automotiva no Brasil. "Estamos trabalhando em estreita colaboração com o governo para evitar quaisquer medidas que possam prejudicar o crescimento do setor e a modernização de nossos produtos", enfatizou o executivo.
JC - Por que a montadora escolheu o Rio Grande do Sul para dar início a essa nova fase do processo de investimentos no País até 2028?
Santiago Chamorro - Esses R$ 1,2 bilhão são parte de um projeto maior, de investimento de R$ 7 bilhões nas fábricas do País. Nos próximos dias estaremos anunciando os demais investimentos que fazem parte desse pacote. Decidimos começar por Gravataí por se tratar de um momento importante para a comunidade (após o desastre climático no Estado), para dar esse sinal de confiança e de apoio e por se tratar de um modelo novo a ser incluído no nosso portfólio, que acreditamos irá chamar poderosamente a atenção dos clientes.
JC - De que forma esse aporte de R$ 1,2 bilhão anunciado para a planta de Gravataí deverá impactar os negócios da montadora?
Chamorro - Esse investimento é para modernizar a fábrica e para um novo modelo. Ele será lançado em 2026, e pretendemos produzir cerca de 80 mil unidades por ano na fábrica de Gravataí. Será um produto que nos permitirá concorrer em um segmento no qual ainda não estamos atuando e no qual temos muita expectativa junto ao consumidor, tanto no Brasil quanto em novos mercados da América do Sul. É um volume de investimento importante em se tratando de um novo modelo apenas.
JC – O que já se pode dizer sobre esse novo modelo?
Chamorro – Não podemos avançar muito ainda, mas ele será produzido sobre a plataforma do Onix e do Onix Plus e movido a combustão interna. Já temos segmento, já temos motorização, já temos uma proposta de design, que está belíssimo. E é tudo que eu posso falar por hoje.
JC – Por que, apesar de um movimento global de fortalecimento do uso de combustíveis limpos, a GM ainda planeja novos modelos a combustão?
Chamorro - A gente acredita, nesse mercado grande, que a pluralidade tecnológica faz sentido. Então, temos veículos de combustão interna e teremos um futuro de veículos elétricos e veículos híbricos ainda localizados e industrializados no País.
JC - Como encara a produção de veículos elétricos na China que acaba desembarcando aqui no Brasil?
Chamorro - A gente, em condições iguais, não tem medo de ninguém. É mais concorrência para o mercado, faz bem para o mercado, faz bem para o consumidor. E nós estamos há 99 anos no Brasil. Este é o quarto ciclo de investimentos, só aqui em Gravataí. A gente tem um processo de industrialização profundo.
JC - Como a GM pensa fazer desse novo modelo a ser fabricado em Gravataí um produto que vai emplacar no Brasil e no exterior, se o custo de produção nacional é elevado?
Chamorro - Estamos também trabalhando numa agenda para reduzir o custo Brasil. Nós temos um custo logístico alto. Temos uma carga tributária alta nos veículos, o que acaba resultando em uma falta de competitividade dos nossos produtos no mercado fora do Brasil. Nós temos tudo neste país. Nós temos minério de ferro, capacidade de fabricar aço, capacidade fabril e de engenharia. Tomara que consigamos, junto com o governo federal, trabalhar em uma regulação que nos permita aumentarmos os volumes e exportar mais para a região. Se você soma todos os países da América do Sul, é um mercado de mais de 4 milhões de unidades, que se coloca no quarto lugar do mundo como país.
JC - Do ponto de vista ambiental esse investimento agrega algum avanço na planta da GM?
Chamorro - Estamos avançando para trazermos energia elétrica limpa para a fábrica de Gravataí. Avançamos no processo de redução de água e de energia elétrica na fabricação dos veículos. Avançamos também na reciclabilidade dos materiais incorporados na fabricação dos nossos veículos e nessas novas gerações cada vez mais melhoramos um pouco.
JC - O senhor acredita que a reforma tributária irá gerar impacto nos preços dos automóveis?
Chamorro - Estamos trabalhando com o governo federal para chamar a atenção de que qualquer aumento dos impostos, por exemplo, impostos seletivos nos veículos, simplesmente por elasticidade de preço, vai trazer uma redução no consumo. Pode afetar o nível de emprego no País, pode afetar o ritmo de desembolso desses investimentos que estamos anunciando todos. E, no momento, a indústria automotriz está investindo pesado para modernizar os seus produtos. Isso traz consigo um efeito negativo. O consumidor, se vê, pelo preço, é encaminhado para comprar um veículo semi-novo, que talvez contamine mais (o ambiente). E isso vai em sentido contrário do espírito desse imposto. Então, estamos contra o impostos seletivos para os veículos.
O anúncio do investimento de R$ 1,2 bilhão em Gravataí pela GM representa não apenas um marco para a indústria automotiva brasileira, mas também um voto de confiança no potencial de crescimento econômico do Rio Grande do Sul e do Brasil como um todo. Santiago Chamorro, com sua visão estratégica e compromisso com a sustentabilidade, delineou um futuro promissor para a GM na América do Sul, onde a inovação tecnológica e o respeito ao meio ambiente caminham lado a lado com o desenvolvimento econômico.
Redação: Colunista Paulo Negretto
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