Nesta terça-feira (30), o Ministério da Justiça e Segurança Pública lançou o documento "Câmeras Corporais: Uma Revisão Documental e Bibliográfica", elaborado pelo consultor Pedro Souza, professor de Economia da Universidade Queen Mary, de Londres. Baseado em evidências e na aplicação em mais de 40 países, o objetivo do documento é oferecer subsídios para a formulação de políticas públicas nos estados e municípios, melhorar as práticas policiais e fortalecer a confiança da sociedade nas instituições de segurança pública.
Em sua apresentação, Pedro Souza destacou que as câmeras policiais são amplamente utilizadas em mais de 40 países, com evidências mostrando que esses dispositivos contribuem significativamente para a melhora no desempenho das polícias e no relacionamento com a sociedade. Segundo ele, as câmeras corporais têm um impacto positivo na redução da letalidade policial, como demonstrado pelo "efeito câmera corporal" na Polícia Militar de São Paulo, que resultou em uma redução de 57% na letalidade contra a população negra.
O estudo foi elaborado em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), sendo um dos produtos contratados através do acordo de cooperação técnica internacional firmado com a Diretoria do Sistema Único de Segurança (Dsusp). Isabel Figueiredo, diretora da Dsusp, ressaltou a importância do diagnóstico como um recurso valioso para pesquisadores, gestores públicos e todos os interessados em segurança pública e na promoção de uma atuação policial mais transparente e justa.
O documento inclui uma análise bibliográfica das práticas nacionais e internacionais que envolvem o uso de câmeras corporais por agentes de segurança pública, além de uma avaliação documental e normativa das diretrizes e práticas das organizações de segurança pública internacionais e nacionais sobre a utilização dos dispositivos.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, comentou sobre a relevância do estudo, destacando que as novas diretrizes representam um "salto civilizatório" no que diz respeito à garantia dos direitos fundamentais. O projeto das novas diretrizes é resultado de vários meses de estudos científicos, análises, audiências públicas e encontros com especialistas.
As novas diretrizes estipulam que os dispositivos de câmeras corporais devem ser usados por integrantes de diversas forças de segurança, incluindo as Polícias Federal, Rodoviária Federal, Penal Federal, polícias militares, corpos de bombeiros militares, polícias civis, polícias penais estaduais e guardas municipais, além de agentes mobilizados pela Força Nacional de Segurança Pública e pela Força Penal Nacional.
A implementação dessas diretrizes visa proporcionar maior transparência nas ações policiais, proteger os direitos humanos e reduzir a violência policial. Estudos indicam que a presença de câmeras corporais pode diminuir significativamente o número de incidentes de uso excessivo da força e aumentar a responsabilidade dos agentes de segurança.
A adoção das câmeras corporais no Brasil já mostrou resultados positivos em algumas regiões. Em São Paulo, por exemplo, a utilização desses dispositivos pela Polícia Militar resultou em uma redução substancial na letalidade policial e na quantidade de denúncias de abuso de autoridade. Esses resultados reforçam a importância da ampliação do uso de câmeras em todo o país.
Além de São Paulo, outras unidades federativas estão implementando projetos-piloto para testar a eficácia das câmeras corporais. O Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia estão entre os estados que iniciaram ou estão em processo de implementação dos dispositivos em suas forças de segurança.
Apesar dos benefícios, a implementação das câmeras corporais enfrenta desafios, como o custo dos equipamentos e a necessidade de treinamento adequado para os agentes de segurança. É essencial que os estados e municípios contem com apoio financeiro e técnico para garantir a correta utilização e manutenção dos dispositivos.
Outro desafio é a gestão dos dados gerados pelas câmeras, que devem ser armazenados e analisados de forma segura e eficiente. A proteção da privacidade dos cidadãos e a integridade das gravações são questões cruciais que precisam ser abordadas para garantir a eficácia e a credibilidade do programa.
A sociedade civil e organizações de direitos humanos têm apoiado a iniciativa, considerando-a um passo importante para a modernização e humanização das forças de segurança. "As câmeras corporais são uma ferramenta poderosa para promover a transparência e a responsabilidade nas ações policiais. Esperamos que essa medida contribua para a construção de uma relação mais confiável entre a polícia e a comunidade", afirmou Maria das Graças, representante da ONG Justiça e Paz.
Por outro lado, alguns setores das forças de segurança expressam preocupações sobre o uso dos dispositivos, temendo que as câmeras possam ser usadas de forma punitiva ou que interfiram na atuação policial. Para mitigar essas preocupações, é fundamental que haja diálogo contínuo entre os gestores de segurança, os agentes e a sociedade civil, assegurando que as câmeras sejam utilizadas de forma justa e equilibrada.
O lançamento do documento "Câmeras Corporais: Uma Revisão Documental e Bibliográfica" pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública representa um avanço significativo na busca por uma atuação policial mais transparente e justa no Brasil. A adoção das novas diretrizes tem o potencial de transformar positivamente a segurança pública, promovendo maior confiança entre a polícia e a comunidade.
A implementação bem-sucedida das câmeras corporais dependerá de esforços conjuntos entre governos, forças de segurança e sociedade civil. Com o apoio adequado e a gestão eficiente, essa iniciativa pode se tornar um marco na modernização da segurança pública no Brasil, garantindo direitos fundamentais e protegendo vidas.
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