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Brasil Presidência

Lula Veta Desconto de Eletrodomésticos para Gaúchos Atingidos por Enchentes

Presidente alega falta de garantias sobre repasse do benefício ao consumidor final e necessidade de ajustes técnicos no projeto que isentaria IPI de produtos da linha branca.

05/09/2024 13h33 Atualizada há 2 semanas
Por: Fernanda Redação Fonte: GZH
Foto: Marcelo Camargo
Foto: Marcelo Camargo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou integralmente o projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional que concedia isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de eletrodomésticos da linha branca por moradores do Rio Grande do Sul atingidos pelas recentes enchentes. A medida, de autoria da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), buscava aliviar os prejuízos materiais enfrentados pelas famílias atingidas pelo desastre natural. No entanto, o governo federal justificou o veto sob alegação de que o projeto, da forma como foi aprovado, não oferecia garantias suficientes de que os descontos seriam repassados diretamente ao consumidor final.

A proposta previa a isenção do IPI para uma série de itens essenciais como fogões, refrigeradores, máquinas de lavar roupas, tanquinhos, sofás, mesas e cadeiras, visando ajudar as famílias a reconstruírem suas vidas após as enchentes devastarem suas casas e propriedades. No entanto, segundo o despacho presidencial enviado ao Congresso, o principal motivo do veto foi a ausência de mecanismos que garantissem que o benefício fiscal seria, de fato, sentido pelos consumidores que comprassem esses itens.

No despacho assinado por Lula, o presidente argumentou que a estrutura do projeto permitia que os benefícios fiscais fossem absorvidos pelas empresas fabricantes ou fornecedoras dos produtos, resultando em aumentos nas margens de lucro, em vez de promover a redução do preço final para os consumidores. "A efetividade da proposição seria prejudicada em razão de o consumidor final dos bens desonerados não ser o contribuinte de direito do referido imposto, o que propiciaria o risco de que os benefícios tributários fossem apropriados sob a forma de aumento de margem de lucro dos produtores ou fornecedores dos bens e não alcançassem o objetivo pretendido de mitigar danos materiais de residentes em áreas atingidas por desastres naturais ou eventos climáticos extremos", explicou o documento presidencial.

A decisão causou frustração em algumas das famílias atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que aguardavam a implementação da medida como uma forma de amenizar os prejuízos sofridos. Além disso, a proposta tinha grande apoio entre parlamentares da bancada gaúcha, que enxergavam na isenção fiscal uma maneira prática de auxiliar os cidadãos afetados a reconstituírem seus lares e recuperarem a normalidade após as enchentes.

Contudo, a deputada Maria do Rosário, autora do projeto, defendeu a decisão presidencial e enfatizou que o veto se deu por motivos técnicos. Segundo ela, Lula apoia o objetivo do projeto, mas considera necessário aprimorar o texto para garantir que a política pública atinja sua finalidade. "Embora o Presidente compartilhe do objetivo central da proposta, considerou que o texto construído não oferece garantias suficientes de que o desconto previsto chegará de maneira eficaz ao consumidor final. Por isso foi estabelecido o compromisso de que o governo revisará o formato da proposta, com o intuito de assegurar a plena execução da política pública no próximo período", afirmou a deputada em nota divulgada logo após o veto.

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Essa não foi a primeira vez que o governo federal demonstrou cautela em relação à concessão de isenções fiscais sem a devida compensação para a perda de arrecadação. O Ministério da Fazenda, responsável por avaliar o impacto financeiro de tais propostas, manifestou preocupação com a falta de mecanismos no projeto que assegurassem a compensação da perda de receita decorrente da isenção do IPI. A equipe econômica ressaltou a importância de manter o equilíbrio fiscal, especialmente em um momento de grande pressão orçamentária devido aos gastos sociais e investimentos em infraestrutura.

A falta de garantias de que o desconto no IPI seria repassado diretamente ao consumidor também levantou questionamentos entre especialistas. De acordo com o economista Rafael Menezes, a proposta, como estava formulada, deixava brechas para que a redução de impostos beneficiasse apenas as empresas. "A isenção de impostos é uma medida que, se não for bem estruturada, corre o risco de não alcançar o público-alvo. Neste caso, o que poderia ocorrer é que as empresas repassassem apenas parte do desconto para o consumidor, aumentando suas margens de lucro e frustrando o propósito original da medida", explicou Menezes.

Com o veto, o governo agora se comprometeu a trabalhar em uma nova versão do projeto, que possa garantir o repasse dos benefícios diretamente ao consumidor final, sem prejuízos ao equilíbrio fiscal. Maria do Rosário já declarou que está em diálogo com o governo federal para ajustes no texto da proposta, de modo que ela possa ser reapresentada ao Congresso em breve. Segundo fontes próximas ao Palácio do Planalto, a intenção do governo é criar um mecanismo de fiscalização mais robusto, que permita verificar se os descontos realmente chegarão às famílias afetadas pelas enchentes.

Entre as famílias atingidas, a expectativa agora se volta para os próximos passos do governo. Muitos veem na isenção do IPI uma oportunidade de adquirir eletrodomésticos e móveis essenciais a preços mais acessíveis, em um momento em que a recuperação econômica após as enchentes ainda é incerta. No entanto, há também quem questione a real efetividade da medida e defenda a adoção de outras formas de auxílio, como o aumento de subsídios diretos para a compra de bens ou a concessão de linhas de crédito especiais com juros subsidiados.

De qualquer forma, o veto presidencial gerou um debate importante sobre a forma de implementação de políticas públicas voltadas para o auxílio a vítimas de desastres naturais. A necessidade de assegurar que os benefícios cheguem diretamente aos cidadãos sem comprometer o equilíbrio fiscal do país tornou-se um ponto central nas discussões entre parlamentares e o governo. Enquanto isso, as famílias atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul aguardam ansiosamente por uma solução que possa aliviar suas perdas e ajudar na reconstrução de suas vidas.

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