A resistência antimicrobiana (RAM) representa uma das maiores ameaças à saúde pública mundial, colocando em risco a eficácia dos tratamentos e a prevenção de uma série de infecções causadas por vírus, bactérias, fungos e parasitas. De acordo com especialistas, a resistência aos antimicrobianos ocorre quando esses microrganismos sofrem alterações após exposição a antibióticos, antifúngicos, antivirais, antimaláricos ou anti-helmínticos. Quando essas mutações tornam os patógenos imunes ao tratamento convencional, surge a chamada *ultrarresistência*.
Com o crescimento das infecções resistentes, surgem complicações significativas para o tratamento de doenças, que podem se prolongar e exigir terapias mais caras, testes adicionais e hospitalizações frequentes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 1 milhão de mortes anuais em todo o mundo são atribuídas a infecções causadas por superbactérias resistentes. Além disso, a resistência antimicrobiana também tem complicações graves em tratamentos essenciais, como cirurgias de grande porte e quimioterapias, que dependem de antibióticos eficazes para evitar infecções pós-operatórias.
O Caso da Acinetobacter baumannii
Recentemente, cientistas alertaram para a emergência de uma nova cepa da bactéria "Acinetobacter baumannii", uma das principais responsáveis por infecções hospitalares graves. Identificada pela primeira vez em 2021 em uma unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital na cidade de Hangzhou, China, a cepa ST164 da *Acinetobacter baumannii* é resistente a carbapenêmicos, um grupo de antibióticos de última linha usados em infecções graves.
A pesquisa, publicada em novembro de 2023 na revista *Nature Communications*, revelou que a cepa ST164 está se espalhando rapidamente dentro dos hospitais da Ásia, tornando-se um dos maiores desafios para o controle de infecções hospitalares. Segundo o professor Alan McNally, da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, “a resistência extrema dessa nova cepa indica que ela precisa ser monitorada de perto, pois pode representar um risco global significativo à saúde pública.”
A prevalência de *Acinetobacter baumannii* resistente aos carbapenêmicos (CRAB) é alarmante: em uma investigação em Hangzhou, 80,9% das amostras de *A. baumannii* encontradas em pacientes hospitalizados eram CRAB, com a ST164 responsável por 40,2% das amostras analisadas. Isso indica que a cepa ST164 está se tornando cada vez mais comum, o que eleva a preocupação com a sua disseminação em ambientes hospitalares e com a possibilidade de resistência a múltiplos antibióticos.
O Impacto na Saúde Pública
A *Acinetobacter baumannii* resistente pode causar uma série de infecções graves, como pneumonia, meningite, infecções do trato urinário e até infecções de tecidos moles. Em pacientes hospitalizados, essas infecções são particularmente perigosas, uma vez que as opções de tratamento são limitadas. A resistência a antibióticos impede que os médicos combatam as infecções de forma eficaz, resultando em tratamentos prolongados, mais hospitalizações e custos significativamente maiores para os sistemas de saúde.
A RAM está também dificultando o combate a outras doenças infecciosas importantes, como tuberculose e HIV. A cada ano, 480 mil pessoas desenvolvem tuberculose resistente a múltiplos medicamentos, o que torna ainda mais desafiador o controle de doenças que, anteriormente, eram tratáveis com antibióticos comuns.
A Urgência de Ações Conjuntas
Especialistas alertam que a resistência antimicrobiana é uma ameaça crescente que exige ações coordenadas entre governos, instituições de saúde, pesquisadores e a sociedade em geral. O uso irracional de antibióticos, especialmente em contextos hospitalares, acelera o desenvolvimento de cepas resistentes. Além disso, é crucial que as autoridades de saúde continuem a investir em pesquisas para o desenvolvimento de novos medicamentos, além de fortalecer as políticas de prevenção e controle de infecções, especialmente em ambientes hospitalares.
A luta contra a resistência antimicrobiana e as superbactérias exige uma abordagem global e urgente. O futuro da medicina moderna, incluindo a realização de cirurgias complexas e tratamentos de câncer, depende da capacidade de manter os antimicrobianos eficazes e de prevenir a disseminação de patógenos ultrarresistentes como a *Acinetobacter baumannii*.
A resistência antimicrobiana não é mais uma questão de preocupação distante, mas uma ameaça real e crescente. A disseminação de superbactérias como a *Acinetobacter baumannii* ST164 exige uma resposta urgente e coordenada. Só com o esforço conjunto de cientistas, profissionais de saúde, governos e sociedade será possível controlar a disseminação dessas cepas e garantir a eficácia dos tratamentos para as futuras gerações.
O tempo para agir é agora. Se não houver medidas adequadas para controlar a resistência antimicrobiana, corremos o risco de retroceder no combate a infecções que, até pouco tempo, podiam ser tratadas de forma eficaz.
O MPV irá trazer atualizações pra você te inscreve no Canal - MPV TV - POA RS vamos trazer vídeos de profissionais da saúde explicando sobre l