Muitas vezes, temos o começo do livro planejado, o meio vamos criando na sorte e até mesmo imaginamos o final, mas... como terminar a história em si? Como criamos um desfecho e realmente damos um fim para ela? Como colocamos as ideias na prática? Como deixar o final interessante?
Não se preocupe, é muito comum ter uma ideia e não fazer a menor ideia de como colocar ela no papel. Antes de qualquer coisa, entenda o que exatamente você quer transmitir com a sua história. Tem uma lição de moral? Tem que ter um final triste ou feliz? Qual personagem deve acabar com tudo? Entenda e analise. Sem pressa.
Algo que me ajuda muito a definir melhor minhas ideias é ouvir música. Nenhuma específica, apenas coloco minha playlist no aleatório e deduzo que a música que começar a tocar é a música que vai me ajudar. Mesmo que não pareça ter algo a ver com minha história, sinto que, se escutar com atenção, virá algum sinal. É sobre tirar água da pedra!
Terminar o primeiro livro de uma trilogia e terminar o último livro da mesma trilogia são coisas muito diferentes. No primeiro, você pode deixar um gancho para o segundo, mas, quando a história chega ao fim, ela deve chegar ao fim. Sem pontas soltas.
“Laranja mecânica”, por exemplo, é uma história curta que conta uma narrativa profunda. Você consegue conhecer cada aspecto daquele universo. Entendo que tem uma linguagem complexa por ter uma língua criada apenas para o livro, mas caso você preste atenção, tem tudo ali. Não falta coisa alguma.
No entanto, “Crepúsculo: O Amanhecer – parte 1”, termina com ela abrindo os olhos quando todos achavam que tinha morrido. Isso foi inteligente para o público ficar intrigado para o próximo filme, mas pense comigo: imagina um filme terminar dessa forma e não ter uma continuação? Eu iria até a casa do roteirista só para esganar ele!
Os livros devem ser redondos. Precisam se explicar por si só. Existe uma diferença entre “imaginar” e “deduzir”.
Quando imaginamos, criamos uma ideia a partir do que já existe. “Será que o Alex realmente amadureceu e virou um homem bom ou teve uma recaída e voltou a ser como era na adolescência?”, é um bom questionamento para quem lê “Laranja mecânica”. Agora, quem assiste ao filme, que não explica tão bem o Alex amadurecendo, teria que deduzir tudo isso já que a obra não dá todas as informações necessárias!
Estou usando esse exemplo porque, mesmo sendo fã de carteirinha dessa história, devo admitir que o final do Stanley Kubrick não é muito agradável. Com a cena na neve, percebemos que ele voltou a ser o pervertido de antes... se prestarmos muita atenção. Assisti ao filme antes de ler e admito que não entendi essa metáfora no filme, mas no livro fica muito claro! Vou explicar a versão do Anthony Burgess para que você entenda a diferença.
Para quem não sabe, Alex vai de um adolescente babaca e rebelde para um jovem submisso e sem opinião própria e, no final, acaba voltando a ser quem ele era antes. Por isso, quando vemos a cena na neve, faz sentido. Entendemos que ele voltou a ser um pervertido. Quando assistimos ao filme, apenas pensamos “Ué? Como assim?”
Mais do que um significado, deve fazer sentido para o público. Não adianta ter uma ideia genial mal explicada. Dê detalhes e, ainda mais importante, diálogos!
Muitas vezes, cenas incríveis acabam ficando entediantes porque foram narradas e não contadas. Quando personagens conversam, a história fica mais dinâmica e mais leve. É claro que detalhar ambientes e aparências é dever do narrador, mas deixar um personagem se espatifar no chão enquanto o outro ri da sua cara é melhor se for por meio de um diálogo:
“- Enfim, você tinha dito que essa estrada era perigosa! Ela é muito simples...
- Ei! Cuidado aí!
Fulano se espatifou no chão. Ciclano começou a rir histericamente, pressionando sua barriga com as mãos quando começou a doer. Mesmo com dificuldade e movimentos lentos, Fulano conseguiu se levantar.
- Cala a boca, idiota. Continua sendo muito simples!”
Você notou a diferença entre minha narração e o diálogo? É óbvio que a conversa e a reação genuína dos personagens ficam muito melhores do que um resumo em uma simples frase.
Isso é importante no final porque, no fim da jornada, seu público já conhece a história e a personalidade de cada personagem depois de passar páginas e páginas mergulhando no seu mundo. Agora, o que ele mais quer é interações entre os personagens principais e referências a outras partes da história, piadas internas e a personalidade de cada um sendo exposta.
Pense que a história literalmente foi contada. Seu leitor supostamente já a entende por completo e, por isso, esse não é o momento em que você adiciona algo. Seu dever é apenas melhorar ou dar algo que você sabe que seu personagem quer. Sim, seu personagem, não o leitor.
Se o personagem foi torturado a história inteira, então mate o torturador. Isso não significa que o leitor queira isso porque, dependendo da narrativa, ele nem sabe quem é o tal do torturador! Então não siga os desejos do público, principalmente quando for uma história triste ou de mistério, mas pense no que seu personagem faria.
Antes que ele tome qualquer atitude, pense se ele é introvertido, tímido, extrovertido, tagarela; pense nos seus aspectos porque eles vão definir suas atitudes, principalmente no final. Caso seu desfecho não tenha nada a ver com tudo que aconteceu ao longo da história, seu público com certeza não vai gostar por não fazer sentido. Lembre-se: toda história tem um início, meio e fim e, sim, os três estão interligados.
Os nomes dos meus livros são “Quer jogar? Tesouras não cortam só cabelo” e “Luzes, câmera e vingança”. Ambos estão disponíveis no Kindle e, na versão física, em sites como Mercado Livre, Ponto Frio, Americanas, Casas Bahia etc.! Confira as sinopses:
"Nesta distopia, diversas pessoas pagam um alto preço para assistir e ter a chance de entrar no honrado O Jogo, no qual há um grupo de pessoas e, ali, um assassino. Na Temporada 11, no entanto, algumas coisas dão errado, mudando o destino desse evento para sempre. Entre assassinatos brutais e disputas entre jogadores, a plateia faz apostas e observa-os com fogo nos olhos, mal podemos esperar para descobrir o que acontecerá a seguir." Dilva Camargo Artista Visual.
“Durante o jantar, ocorre uma morte repentina na mesa da família Capellier. No entanto, não podem chamar a polícia porque seu sobrenome não seria muito bem-visto na delegacia por causa do passado de Francisco, um corrupto de primeira classe.
Para a surpresa de todos, ele morre, mas ninguém iria no seu funeral porque era odiado pelo mundo inteiro. Para não deixar passar em branco, os Capellier, uma família burguesa, não podiam perder a oportunidade de convidar seus inimigos (pelo menos, os que podiam listar) para se hospedarem na sua mansão absurdamente glamorosa e compartilhar a raiva mútua que sentiam contra o homem que, agora, estava morto.
Todos aceitam o convite sem pensar duas vezes, mas a família não imagina o quão sedentos por vingança estão os convidados...”
Valéria do Sul
(Deivid Jorge Benetti),
do Portal de Notícias MPV