Na próxima quarta-feira, dia 29 de janeiro é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans.
A data tem origem no ano de 2004, no primeiro governo do Presidente Lula, quando foi organizado pelo Ministério da Saúde, em Brasília, um ato nacional para o lançamento da campanha “TRAVESTI E RESPEITO”, no Congresso Nacional.
Essa campanha foi um marco na história do movimento contra a transfobia, e contou com a participação de pessoas trans e travestis na produção e coordenação do evento.
A simbologia desta celebração, além de dar visibilidade e protagonismo à população de transgêneros, pessoas trans e travestis no Brasil, busca também, e principalmente, por mais atenção para as principais reivindicações desta parcela da população, ainda tão marginalizada em nosso país.
O objetivo deste dia não é, nem remotamente, reivindicar privilégios ou vantagens, mas reforçar a luta por políticas públicas junto aos governantes, buscar apoios a ideias, ações e projetos junto à iniciativa privada e, naturalmente, divulgar as inúmeras e incansáveis iniciativas de organismos do terceiro setor em prol da população travesti do Brasil, unindo governos, empresariado e movimentos sociais numa mesma causa.
Estima-se que no Brasil exista cerca de mais de 1 milhão de pessoas trans identificadas e autodeclaradas, segundo números estatísticos recentes.
Nosso país é, paradoxalmente, o líder no ranking mundial em dois extremos:
Ao mesmo tempo em que somos a nação que mais consome pornografia trans na internet também somos, infelizmente, o povo que mais mata pessoas trans e travestis em todo o planeta. É preciso ressaltar que entram nesta conta também os inúmero casos de suicíd*os cometidos por pessoas trans em decorrência da depressão causada pelas situações de violência psicológica, verbal e física a que são submetidas sistematicamente.
O que mais explicaria este fenômeno adversativo que mescla fetiche e repulsa pelos corpos de identidades trans que todo ano ceifa vidas e interrompe existências além do preconceito gerado pela ignorância?
A realidade destas pessoas já é bem difícil com atravessamentos traumáticos de toda ordem e desde muito cedo. Não são raros os casos de pessoas trans que não recebem acolhimento familiar quando resolvem assumir sua transição, muitas vezes gerando até expulsão do núcleo familiar. Não são poucos os casos também, em que o bulling, recorrente no ambiente escolar, afasta os jovens trans do ensino formal, dificultando assim a contratação futura em empregos efetivos e registrados para além da prostituição, que é o caminho “escolhido” pela grande maioria das jovens trans.
Moralismos à parte, o caminho da prostituição deveria ser aderido exclusivamente por opção e não por falta de uma. Aliás, educação e empregabilidade são duas das maiores e mais urgentes reinvindicações quando se fala na militância de pessoas trans.
Esta equação que soma a quebra das relações familiares, grau de instrução prejudicado pela hostilidade nos espaços educacionais, adesão compulsória à prostituição como única alternativa de trabalho e meio de sobrevivência acaba resultando, muitas vezes, numa jornada de existência perigosa, insalubre, penosa e vulnerável.
Em geral, pessoas trans e travestis são assassinadas com requintes de crueldade, sendo muitas vezes, humilhadas e torturadas antes de serem mortas de formas chocantes, impiedosas e desumanas. Um caso emblemático é o de Dandara Santos, em fevereiro de 2017, que foi covardemente espancada por seis homens diante de toda a comunidade de um bairro da periferia de Fortaleza. Ninguém fez absolutamente nada e todo o horror a que foi submetida foi filmado e jogado nas redes sociais por seus agressores, tamanha a certeza de impunidade dos criminosos. O caso ganhou repercussão nacional e comoveu o país.
Para se ter uma ideia da realidade de violência que muitos enfrentam, ainda que os números apresentados sejam subnotificados por não serem oficiais e sim extraídos de levantamento realizado por setores da militância e ativismos do Brasil, através de pesquisas em jornais, revistas e internet, os dados já são estarrecedores: apontam que há mais de uma década e meia, 15 anos, o Brasil é o campeão de mortes de pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ no mundo, com especial destaque (quase 60%) para as pessoas trans e travestis, cuja expectativa de vida é de menos de 35 anos, enquanto a média de pessoas cisgêneros no Brasil é mais que o dobro: 76,4 anos, segundo dados do IBGE de 2024.
Pessoas trans ainda são minorias nas universidades, seja lecionando ou estudando, são minorias no serviço público, são minorias na política, no judiciário, nas gestões públicas, nos cargos de liderança de grandes empresas, na área da saúde e em muitas outras do nosso dia a dia, inclusive, provavelmente, sejam minoria também na agenda de seu celular e na sua lista de amigos mais próximos. Quantas pessoas trans você convidaria para social na sua casa? Quantas pessoas trans você convidou para o seu último aniversário? Você convidaria uma pessoa trans para batizar seu filho?
Por que a maneira como uma pessoa entende e expressa seu gênero e com quem ela prefere se relacionar incomoda tanto você? Pense nisso honestamente e com um pouco mais de profundidade e perceba que muito provavelmente o problema está em você e não na população trans.
O respeito às diferenças que não interferem na sua vida é a base da democracia.
Pense nisso, comece a melhorar o mundo por você!
Fica a dica.
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